quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Sufocando Artistas de Rua em São Paulo

- INTRODUÇÃO

Na prática, não sei como andam as coisas exatamente em SP. Mas pelo visto, pelo menos oficialmente, parece que é proibido que artistas de rua recebam doações do público desde 2010.

Larga isso, menina! Cê vai parar na FEBEM!

A questão é que é proibido que se proíba (!) a manifestação artística pública pela Constituição Federal. Em vários países, inclusive no Brasil, a arte de rua é um direito. Pintores, caricaturistas, estátuas vivas, músicos, malabaristas, palhaços, cowboys fortões semi-nus em Nova Iorque e essas coisas. Sendo assim, pra driblar essa "praga", parece que a estratégia é essa: proibir as doações. E assim, aos poucos, os artistas de rua vão desaparecer. Porque comercial na TV e outdoor que ninguém pediu não tem problema nenhum, mas arte na rua é uma grande perturbação pra humanidade.

Então… qual será o grande problema dos artistas de rua, afinal?

Viu o tamanho da guitarra!?
Note a kombi ao fundo. Esse cara devia ser um verdadeiro psicopata.


- A AMEAÇA DO PENSAMENTO INDEPENDENTE

Bem, em ditaduras, o grande problema dos artistas de rua é que eles têm uma certa propensão a talvez "se expressarem demais". E como costumo apontar nas Teorias de Conspiração desse blog, o mundo está sempre vivendo a constante ameaça de um regime ditatorial. 


Brasil nos anos 70.

O Brasil já viveu um desses, e sabe-se bem que censura teve um papel importante na coisa toda. Até hoje, de certa forma, ainda existe um certo preconceito que coloca artistas, manifestantes, esquerdistas e maconheiros tudo num mesmo saco. Um saco, pra essa gente, de coisas ruins. Ainda assim, apesar do desprezo desses neo-nazi, nós ainda temos aqui o nosso direito de falar o que bem entendermos sobre um bando de coisa ("nós" humanos, não "nós esquerdistas" ou qualquer coisa assim porque não sou). E isso continua irritando profundamente alguns figurões inescrupulosos.

Sendo assim, nos tempos modernos, eis que entramos numa outra forma de censura.

- A QUESTÃO COMERCIAL

Bem-vindo a um mundo dominado por políticos e mega-corporações entrelaçadas. No final, as mega-corporações mandam mais: além de muitos políticos serem oficialmente empresários, todos precisam de grana pra se promoverem em suas campanhas eleitorais. Sendo assim, tão sempre aceitando alguns empréstimos com a troca de alguns favores convenientes. Ou seja: as grandes empresas têm sempre que sair por cima.

Só esses aí controlam mais de 70%
da música no mundo.
Nesse sentido mais econômico do que político, o "artista independente" também é um grande problema. O artista independente… simplesmente… GANHA DINHEIRO FAZENDO O QUE QUER. Isso é uma coisa horrível não só porque ele pode fazer críticas e incentivar reflexões inconvenientes, mas também porque ele não está dando dinheiro pra produtoras e gravadoras multimilionárias

Essa é a verdade. Artistas modernos que não dependem de produtoras e distribuidoras são uma coceira irritante. Eles deviam dividir seus míseros lucros com uns illuminati satânicos já mais do que milionários. Além do mais, além de não estarem dando dinheiro pra ninguém além deles mesmos, eles conseguem escapar da "censura comercial" (termo que eu acabei de inventar, mas que talvez exista).

Como eu disse, a política está perfeitamente aliada a interesses econômicos megalomaníacos e sem escrúpulos sociais. Sendo assim, toda a Indústria do Entretenimento têm o perfeito direito de recusar qualquer obra artística que "não se encaixa no perfil deles". Então, se você "falar demais" e parecer uma ameaça pro confortável status quo que mantém os empresários ricos e os políticos no poder, você acabará tendo que se virar sozinho.


Confisca tudo. Vender a própria produção também é pirataria.
(sério mesmo)

Vendo a foto acima, não imagino que o cara seja nenhum grande revolucionário pregando ideais subversivos. Ainda assim, ele é inconveniente por não se adequar à indústria, seja se recusando a pagar taxas a grandes gravadoras renomadas, seja simplesmente trabalhando com algo que talvez não gere tanto apelo comercial

De qualquer forma, se ele está vendendo qualquer coisa no meio da rua, provavelmente precisa de alguma licença especial ou qualquer coisa assim. Existem regras pra essas coisas, e até o direito dos artistas de rua que não vendem nada têm lá seus limites - têm que dar um tanto de espaço pra passagem de pedestre, não pode fazer um tanto de barulho e coisas afins.

Ainda assim, a polícia tem lá suas tendências à ignorância e violência, e é claro que vão se divertir em correr atrás de artistas e demais "vagabundos", em vez de proteger e servir as pessoas como deveriam.

Aqui, eis um vídeo de um artista colocando uma moralzinha nos poliça. Ele foi abordado por supostamente estar depredando o espaço público (um orelhão de uma empresa privada, mas ok) e dezenas de policiais precisaram derrubá-lo a força enquanto ele, ironicamente, protestava contra a violência. Como se pode notar, ele é uma ameaça não só à indústria de telecomunicações, como também da exploração sangrenta do petróleo no Oriente Médio.



Mas enfim, vendo a segunda parte desse vídeo (aqui), ele acaba preso de um jeito ou de outro. Possivelmente levando alguns tapas na cara e sendo chamado de vagabundo numa salinha escura. Mas de qualquer forma, ele deixou sua ~MORAL~ registrada, inclusive prevendo que isso aconteceria. Então, no pessimista caso de espancamento, cada soco que ele ganhou foi mais um ponto pra ele mesmo do que pra possível estupidez dos policiais.

- CONCLUSÃO

No final das contas, o que eles querem é industrializar todas as coisas. Não só pra ganhar dinheiro, mas também para terem controle de tudo que consumirmos - tanto fisicamente quanto mentalmente. É pra esse caminho que deve seguir a cultura do consumismo e materialismo. 

Além de fingirem que é impossível que nós sejamos felizes sem determinados produtos, parece que eles querem tornar impossível que se fique feliz "de graça". Na verdade, eles querem que seja impossível que as pessoas sejam felizes de qualquer forma, porque assim elas ficam sempre com a necessidade de mais e mais. E é claro: a indústria dos remédios psiquiátricos tá aí pra isso. No Brasil não é grande coisa, mas nos EUA tem progandinha na TV pra anti-depressivo.

Apesar do fator crítico/humorístico da imagem, isso foi levado em consideração
oficialmente, pra aumentar o salário dos policiais.

Enfim, pra tornar todas as pessoas infelizes e materialistas, precisam tomar atitudes assim. Precisam impedir que as pessoas ajudem umas as outras. Precisam impedir que existam artistas livres. Já é um tanto imoral que se dê moedas pra mendigos como se isso fosse financiar uma praga, mas daqui a pouco vão proibir oficialmente a atividade comercial de se pedir esmola. Já é proibido fazer doações a artistas na rua… talvez daqui a pouco proibam o consumo de sucos de naturais - agora só refrigerante ou suquinho artificial (que já são sempre mais baratos e acessíveis).


Continue com o devaneio e logo estaremos sob a vigilância do Grande Irmão do 1984. Proibido sorrir pra estranhos. Proibido abraçar em público. Proibido demonstrar empatia. Proibido qualquer emoção que não aquelas voltadas aos interesses dos dominantes. Proibe-se o pensamento livre, a liberdade de expressão, controla-se a arte e todas as coisas. E aos poucos, chegamos à Nova Ordem Mundial. 

Pra finalizar, alguns outros links sobre o assunto:

- Entrevista com o cara da segunda foto desse post, derrubado no chão com a guitarra quebrada:

- Entrevistas com alguns artistas de SP em 2010:

- Texto com algumas boas notícias que repercutiram da situação dos artistas de rua em SP:

- Vídeo pertinente sobre o mesmo assunto, recente, de 2012 mesmo:

Pra ler a reportagem inteira da Folha, tem que ser assinante de alguma coisa, mas compartilharam o texto inteiro nesse blog aqui:

 - O primeiro texto que vi por aí e me fez ler mais e fazer esse post:


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