BATMAN: O Cavaleiro Illumi-Imperialista Ressurge

A começar por essa imagem promocional.

Reflitamos: vai dizer que isso não é escroto...?

Lembrando: o bonzinho tem que ser o Batman.

Um multimilionário dono de uma corporação paramilitar, usando tecnologia ultra-cara experimental secreta, bota uma fantasia misteriosa e é convocado pela polícia em caso de emergência pra combater os crimes mais banais. Ok, eis o Batman. Escroto por si só.

POIS ENTÃO, VAMOS FALAR SOBRE O QUÃO ILLUMINATI PROPAGANDA-IMPERIALISTA É  O SEU NOVO FILME. Com spoilers adiante, essa pérola cinematográfica é mais ou menos assim:

Tudo começa com o pobre Bruce Wayne desiludido em sua mansão, fazendo bondades e caridades no piloto-automático sem nunca dar as caras (muito menos com a roupinha de morcego). Então, surge uma boazinha filantropa com o sonho de salvar o mundo com energia limpa e sustentável chamada Miranda Tate. 

Bane batendo onde machuca.

Mas antes de falar dela, falemos de um personagem crucial para a trama: BANE. No começo, sinceramente, achei ele um personagem maravilhoso. Ele coloca em cheque tudo o que o Batman faz <3. E assim como o Batman, ele foi treinado pela Liga das Sombras pra ser boladíssimo. O que eu quero dizer é que é estranho o Bane ser um vilão e o Batman um herói se eles são essencialmente iguais.

Se você reparar, até a metade do filme, os dois são basicamente a mesma coisa: um brutamonte mascarado espancando todo mundo com seus recursos tecnológicos duvidosos pra chegar a um ~~bem maior~~ que ele tiraram da própria cabeça. Dois ditadores silenciosos seguindo com seus planos pra controlar o mundo pela esquerda ou pela direita, do jeito que bem entendem.

E por boa parte do filme, acho que a vibe geral é meio: foda-se o Batman. O Batman é um hipócrita meio óbvio (milionário espancando batedores de carteira???), um status quo meio fracassado desde o início. Sendo assim, quando o Homem-Morcego dá espaço pra um novo manipulador mascarado (lembrando que Gotham vive a mentira de que Harvey Dent é um herói), a coisa parece estranhamente aceitável. É óbvio que Bane vai ser ~o malvadão~ do filme, mas com aquela voz fraca e meiga diante de um corpo enorme, o idealismo do Bane não deixa de ser um pouco sedutor. Afinal, já que ele é meio que a mesma porcaria que o Batman, o Bane pelo menos dialoga com a população de Gotham e é explicitamente idealista - coisa que o Batman finge não ser. E essa sinceridade, pelo menos, é irada o suficiente. Com seu terrorismo suicida meio árabe e modelito estilo Rússia, o cara é tipo um Anarco-Comunista do futuro.

Bane boladão revolucionário.

Ele solta os ~pobre bandidos~ que são apenas vítimas de uma sociedade podre. Julga os corruptos com um charme medieval e os enforca em público. Liberta a população e deixa que eles próprios se vinguem dos ricos e dominantes. Ele faz inclusive a reviravolta profética ("há uma tempestade vindo, Sr. Wayne...") que a Mulher-Gato, a bandida amigável (e extremamente gostosa), sempre sonhou: aloprar com a desigualdade social de Gotham ("... todos se perguntarão como acharam que poderiam viver com tanto e deixar tão pouco para o resto."). É uma revolução muito maneira… o único problema é que o cara, além de bruto e violento, na verdade planeja explodir todo mundo (???).

SIMPLES ASSIM. Pra gente ser obrigado a engolir que o Batman é bonzinho e o Bane é mau (mesmo eles sendo iguais), o filme bota o vilão pra querer simplesmente explodir várias pessoas enquanto finge que as liberta. E enquanto o mundo vai por água abaixo com o Batman desaparecido, volta e meia alguém resmunga de saudades.

Ricos, pobres, policiais: Batman! Batman! Você precisa voltar! 

Milionários do mundo, precisamos de vocês de volta!
Continuem escondendo fontes de energia alternativas porque
Anarco-Comunistas querem destruir o mundo!

E é nesse aspecto que o filme começa a ficar assustadoramente escroto. De um lado, temos um Batman milionário e hipócrita que trapaceia a população com suas politicagens com a polícia. Do outro, temos o líder Bane vida-sofrida fomentando a população pra se rebelar contra tudo isso.

Mas se rebelar é ruim. Por quê?

Sei lá, porque o Bane é mau. Simplesmente. Todo mundo sabe. E ele é mau de verdade mesmo. Tipo, sério, ele quer explodir a porra toda. Além do mais, você não pode achar maneiro um cara que te faz pensar em árabes e comunistas russos ao mesmo tempo.

Sendo assim: BATMAN, VÁ SALVAR O MUNDO DO TERRÍVEL BANE. O mundo tá ficando muito esquerdistazinho pagando de revolucionário cansado de capitalismo… precisamos despertar a direita adormecida. Volte, Batman! Volte! É melhor você do que ele!

Você consegue!

Então tá. O Batman, mesmo mimado riquinho, consegue se botar de pé novamente e fazer o que os pobres-sofridos jamais conseguiram fazer (o filme realmente fala nisso quando ele foge daquela prisão maléfica). E agora, ele vai salvar o mundo! E veja só que curioso: ESSE TEMPO TODO, OS POLICIAIS ESTAVAM TODOS ENTERRADOS (AHAHHAHAHAHHA). Uma facção de mendigos mercenários do esgoto prenderam eles lá, mas agora o Cavaleiro das Trevas illuminati ressurgiu para salvar a povo de um massacre nuclear! E para isso: precisamos de bravos policiais espancando manifestantes!!! Hora de desenterrar essa polícia desaparecida!

POLÍCIA É PARA QUEM PRECISA!
(e nós precisamos de umas palmadas, pelo visto)

Essa é a cena simbólica mais absurda, no clímax do filme.

É claro que não tem nada de errado nela exatamente. Mas pra mim, ver um bando de policial gritando não me faz pensar em nada além de repressão. Só se vê tanta polícia assim em protestos e passeatas e ocupações da vida. Coisas, em geral, pelo "bem da populção". Mas em plena era de tumultuosas manifestações populares pelo mundo inteiro (inclusive o Ocuppy Wall Street em uma cidade bastante parecida com Gotham), finalmente conseguiram colocar a juventude pra torcer pra polícia (a "autoridade tradicional") novamente: VAI LÁ, POLIÇA! SPRAY DE PIMENTA NESSES PSEUDOS!!!

TIME BATMAN VS. TIME BANE
Não há batalha mais simbólica.

Então beleza. 

As coisas começam a dar muito certo e o Batman dá uma surra no Bane. É muito interessante que a luta é um tanto difícil até que surge a Mulher-Gato (a bandida individualista que resolveu fazer as pazes com quem ela roubava - simplesmente desistiu daquele sonho de rebelião popular).

A chegada dela é triunfal e ela diz algo como: "NOSSA BATMAN, POR QUE VOCÊ SÓ ESPANCA OS BANDIDOS??? VOCÊ DEVIA USAR ARMAS!!!" e depois dessa, evidentemente, Bane fracassa. Mas eis que Bane também tem uma figura feminina que troca de lado para socorrê-lo no último instante: Miranda Tate. Lembram dela?

Não se deixe levar por esse rostinho bonito e valores moderninhos sustentáveis.
Ela é falsa, deu pro Batman por dinheiro e quer destruir o mundo.

É nesse momento que os illuminati gozam. ONGUEIRA FILHA DA PUTA, ENERGIA SUSTENTÁVEL É O CARALHO, VOCÊ QUER CONSTRUIR BOMBA ATÔMICA, VAMOS CONTINUAR QUEIMANDO COMBUSTÍVEIS FÓSSEIS E ATRASAR A CIÊNCIA PORQUE SENÃO VOCÊ EXPLODE O MUNDO (o Batman realmente esconde avanços tecnológicos porque "o mundo não está preparado" (!!!)).

BLÁ BLÁ BLÁ BLÁ BLÁ. Quem nunca ouviu todo esse discursinho antes!? É assustadoramente lamentável que existam filmes mega-populares que masturbem tudo isso. Sério mesmo, a única mulher boazinha e com potencial moral no filme, com ideais fofos e ao mesmo tempo com autoridade pra mudar alguma coisa… tipo, logo ela, infelizmente, ela é simplesmente má. É como se fosse pra gente jamais cometer o erro de confiar nessas inovações.

Mas enfim. Apesar desse tropeço, desse descuido do Batman imperialista ter confiado e flertado e se deitado com o capitalisminho sustentável, as coisas começam a melhorar novamente. Com a ajuda da boa e velha autoridade tradicional, Batman consegue perseguir a fonte-de-energia-que-na-verdade-é-bomba (já ouviu essa história antes?) enquanto um policial muito fofo e heróico tira criancinhas órfãs da morte certa. 

Com toda sua simplicidade: nosso herói comum. :*

O tempo todo, esse carinha amigável e eficaz aparece no filme resolvendo todo tipo de treta. Ele é um carinha bem careta e bonzinho, padrãozinho, e até o último instante eu não tive nada pra reclamar dele. Um personagem suspeito em toda a sua caretice tradicional, mas bastante maneiro afinal de contas. ATÉ QUE ELE ME SOLTA ESSA: AH NÃO, TEM MUITA REGRA SER POLÍCIA, MUITA BUROCRACIA SABE, VOU RESOLVER AS COISAS DO MEU JEITO SEM AS AMARRAS DA LEI. Porra, Robin, muito maneiro. Vai juntar lá com o Batman e sua associação secreta illuminati então. 

Como se a lei já não servisse o interesse de gente rica o tempo todo, ele ainda quer se dar a liberdade de desrespeitá-la???

ÓTIMO. Bem que eu reparei que ele ficou muito soltinho depois que passou a ser detetive independente, e não poliça "só seguindo ordens, senhor". Aliás, ele fica tão soltinho que mata dois caras (aqueles do cimento-explosivo). É meio chocante e ele fica meio transtornado, no começo. Mas é engraçado ver que depois ele se acostuma com a ideia. Afinal, quem não quer pegar carro de civil emprestado e sair pela rua invadindo hospital com uma shotgun...?

Enfim, foi-se a minha única esperança de "personagem camarada" no filme. 

--> O Batman sempre foi um illuminati imperialista escroto. 

--> O Bane é um anarco-comunista psicopata ("mal necessário", blablablá) que na verdade quer explodir tudo e conquistar o mundo ocidental (que já tá conquistado pelo Batman tão ruim e autoritário quanto ele).

--> A Miranta Tate é uma biscate ONGueira traidora de illuminati e paga-pau do Bane Stalinista. 

--> O Blake/Robin é um policial fofo e caretinha que desiste de ser caretinha e resolver virar um vigilante não-preciso-da-lei-sou-superior no estilo bomba-relógio pra abuso de autoridade. 

Sério, ninguém presta nessa desgraça (que fique claro que não listei aqui o corpo da Anne Hathaway). E mesmo assim, sem nenhum personagem decente, a moral do filme é simplesmente deixar que tudo volte ao normal. Voltemos ao status quo fracassado. Mas dessa vez, por causa do alvoroço, nos iludindo de que dessa vez estamos num mundo melhor. Pra quem não tá familiarizado: as teorias de conspiração de Nova Ordem Mundial são exatamente isso. A mesma porcaria atual. Só que com todo mundo pensando que tá tudo bem, com micro-chips rastreadores no cérebro e chineses escravizados em fábricas.

No final das contas, o único personagem decente do filme é esse:

:(

O pobre Alfred. Aquele que não faz nada demais, que não tem grandes motivações, que só sonha com uma vidinha normal pra ele e pra todo mundo. Sonha e sofre, do começo ao fim, até fazer birra e FINALMENTE, após anos de uma estranha escravidão voluntária, resolver ficar de mal com o Batman. 

O grande Alfred, afinal, representa TODOS NÓS. Que reclamando ou não, vai ver filme do Batman e mesmo depois de espernear e fazer birra, acaba querendo fazer as pazes pra ganhar uma fatia do bolo dos milionários. Porque o filme é maneiro. Porque todo mundo quer ser um pouco rico. E fim. A propaganda acaba. Se você vai comprar a ideologia ou se ela é intencional ou não, é outro papo. 

Sobem os créditos.